João Marcos Coelho |
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| Comunidade: Casas que deviam formar um complexo habitacional moderno foram invadidas no Nova Conquista |
Felippe Carotta
Itatiaia
No projeto, um complexo habitacional moderno, calçado, enfeitado com gramado verde e outras belezas. Na realidade, um conjunto de casas invadidas, em condições precárias, sem serviço de abastecimento de água nem saneamento básico. Pior: esse cenário de abandono existe após cinco anos da promessa das obras. Assim foi o relato de moradores para justificar o fato de terem ocupado cerca de 50 residências no bairro Nova Conquista, que seriam entregues a eles quando estivessem prontas.
Na última quarta-feira, a equipe de reportagem do DIÁRIO DO VALE visitou o local. Lá encontrou um funcionário da prefeitura, que trabalhava no levantamento das necessidades sumárias das famílias alojadas na comunidade. Ele - que terá sua identidade preservada a fim de não ser prejudicado - explicou do que se trata a construção, além de revelar detalhes a respeito da invasão.
- Trata-se de uma obra do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), sob a responsabilidade da Secretaria Estadual de Habitação. Desde o início dos trabalhos vêm ocorrendo problemas. Primeiramente, a empreiteira contratada paralisou as atividades, quando as casas estavam quase concluídas. A empresa abriu falência e abandonou o canteiro - contou.
- De lá pra cá, passou-se um ano e meio, sem nenhuma solução. Daí, os imóveis começaram a ser depredados, com roubo de pias, janelas, caixas d'água, etc. Quando isso começou a acontecer, as famílias que estavam no cadastramento para serem contempladas resolveram ocupar as casas. Eles pensaram: "Já que o pessoal está quebrando tudo, é melhor invadir" - acrescentou.
O servidor mencionou ainda que, na semana passada, o prefeito Luís Carlos Ypê (PP) teria marcado uma reunião com o secretário estadual de Habitação, Rafael Picciani. O objetivo do político seria conseguir um documento da pasta, liberando o Executivo municipal a tocar o empreendimento e concluir a construção das moradias.
- O prefeito não tem autorização para simplesmente entrar e terminar a obra. Ele foi tentar conseguir que o governo do estado retomasse os trabalhos e, no caso de isso não ser possível, obter uma liminar que autorizasse o poder público local a entrar em ação - disse.
Procurado, ontem, para comentar o assunto, o assessor de imprensa da prefeitura, Rui Camejo, se negou a dar maiores informações. Já a assessoria da Secretaria Estadual de Habitação não respondeu, até o fechamento desta edição, às perguntas encaminhadas, via e-mail, pela reportagem do DIÁRIO DO VALE.
Polícia e GM auxiliam trabalhos no local
Na quarta-feira passada, a presença de uma viatura da Polícia Militar, com dois agentes armados, e mais quatro membros da Guarda Municipal, chamou a atenção na comunidade - que já conta com igreja e até um pequeno bar. Os PMs afirmaram que só estavam no local para dar cobertura aos trabalhos de servidores da prefeitura e de assistentes sociais, que, na ocasião, faziam o levantamento da realidade das famílias, incluindo necessidades primárias.
- Da outra vez em que o pessoal veio trabalhar, dizem que eles foram ameaçados por alguns dos invasores. Então viemos para garantir a segurança e a tranquilidade - falou um policial.
Questionados se haviam constatado algum tumulto naquela tarde, os guardas municipais responderam que "não".
- Aqui, graças a Deus, os moradores são tranquilos. Mas, é sempre bom ficar de olho - afirmou um deles.
‘O sonho virou pesadelo', lamenta moradora
Temerosos, os moradores das casas invadidas não aceitaram dar entrevista. Apenas uma aceitou o desafio. Mãe de duas filhas, Maria Alessandra Gonçalves de Oliveira recordou o início da história.
- Eu morava numa casa que foi interditada por estar em área de risco. Quando chovia, molhava tudo por dentro. Daí, cerca de cinco anos atrás, me cadastrei para ganhar uma residência. Foi quando começaram as reuniões. Perdi vários finais de semana, entregando papelada e cumprindo outros trâmites. Fui contemplada com a moradia, e perdi de vez o local onde vivia - relatou.
- No dia 20 de janeiro deste ano, agendaram uma reunião com a gente, mas ninguém do governo apareceu. Então, o pessoal que tinha direito começou, aos poucos, a ocupar a área. Veio um, veio outro, e todo mundo resolveu invadir. Do jeito que estava, nós viemos, antes que acabassem destruindo tudo - complementou.
A jovem fez questão de frisar as condições em que as residências foram encontradas.
- Há quase um mês, quando cheguei, o mato estava tão alto que atingia quase a metade da parede. Levaram tudo: pia, caixa d'água. A casa era para ter sido entregue com forro de PVC e, no entanto, nem piso tem. Nas reuniões em que comparecemos as maquetes mostravam um condomínio lindo, com gramado verde na frente e outras coisas. Do que foi combinado, nada aconteceu. Minhas filhas têm rinite alérgica e estamos mal. O sonho virou pesadelo - desabafou.
- A rua devia estar asfaltada. Eu dormia imaginando minha família num lugar melhor - lamentou.
Maria Alessandra finalizou destacando que o prazo do governo para entregar a obra estourou há quase dois anos.
- Eles é que estão irregulares. Nós lutamos por isso aqui. É muito triste o que está acontecendo - emocionou-se.
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